ANIKULAPO
Aquele
que carrega a morte no bolso: foi assim que Fela Kuti quis ser
reconhecido ao se rebatizar com o sobrenome Anikulapo. Fela, antes
Ransome Kuti, imbuído por suas convicções panafricanistas, renasceu
espiritualmente e levou à risca a magnitude e o poderio de seu novo
nome. O afrobeat, estilo musical-político dirigido e executado pelo
músico, foi a fonte para todo o percurso transatlântico que o
documentário ANIKULAPO seguiu. Em 2010, deu-se o início da jornada de
entrevistas, viagens e pesquisas que resultaram na afro-anarquia
audiovisual intitulada com o sobrenome de Fela. Mais um projeto bem
sucedido financiado coletivamente, ANIKULAPO é fruto de mais uma
alternativa concreta para se produzir cultura independente. O
documentário retrata a história de Fela Anikulapo Kuti e sua
importância, ainda pouco conhecida no Brasil, enquanto figura de
liderança política, discurso revolucionário e de valorização das
tradições africanas, panafricanista, músico de criação e produção
notáveis, sacramentado como criador de um estilo musical de fortíssima
expressão cultural e política: o AFROBEAT. ANIKULAPO trata do legado de
sua música e postura política na Nigéria, além de ressonâncias na África
e em todo o mundo, destacando a ligação cultural-espiritual-ancestral
entre o Brasil e a Nigéria por intermédio dos escravos Yorùbá, etnia da
qual Fela pertencia. Além da questão de herança cultural étnica, o
documentário busca discutir as expressões do ’’afrobeat’’ como gênero
músical em constante reformulação e não necessariamente posterior a
Fela. A provocação proposta é abordar as manifestações afrodiaspóricas
baseadas no lado de cá do Atlântico como confirmações de que somos
irmãos genéticos e espirituais de Fela, conscientes ou não de seu
formato musical e discursivo. As fotografias agora expostas, tiradas por
Micael Hocherman durante a viagem à Nigéria, traduzem memórias vivas da
visita ao país, onde foram captadas as muitas cores e movimentos do
povo nigeriano, do AFROBEAT e do caos e calor dos cenários urbanos de
Lagos. O ensaio contempla a atual reaproximação do Brasil com a África e
surge em um momento rico de discussão e valorização das culturas e
histórias resultantes da diáspora. Os registros de ANIKULAPO na Nigéria
reúnem as situações, olhares e vigor de uma cultura pulsante, um
movimento musical vivo e uma realidade distante e ao mesmo tempo tão
intrínseca nos nossos dias.
Fotografias: Micael Hocherman.
Produção e Direção: Pedro Rajão.
Saiba mais em www.facebook.com/anikulapo.brasil